Aquele ‘bafo de onça’ derruba qualquer produção… A halitose é um problema que compromete a qualidade de vida. Mas tem saída.

João se produziu inteiro, se fez lindo para o primeiro encontro com a garota que conheceu no mundo virtual. A impressão inicial é ótima: ela é mais bonita do que parecia nas fotos e retribui com um olhar muito receptivo. Mas bastam algumas palavras para que ele sinta aquele odor desagradável, mandando tudo por água abaixo.
Maria parte para a entrevista do emprego de seus sonhos. Está confiante. Seu currículo preenche todos os requisitos da vaga e ela se preparou bastante para esse momento. Mas, mal começa a falar, nota que a entrevistadora afasta ligeiramente a cadeira e começa a olhar para os lados, como se estivesse à procura de alguma coisa distante.
Cerca de 51 milhões de brasileiros, Joões e Marias como esses acima, exalam um tremendo mau hálito. Trata-se de um problema silencioso que compromete a qualidade de vida. Felizmente, seu tratamento é simples.

O que é mau hálito
Geralmente visto como uma doença, o mau hálito é, na verdade, um sinal de que algo no organismo está diferente. Ou errado. Seu nome científico, halitose, significa “alteração do ar expirado”.

As causas do problema
Existem aproximadamente 50 motivos para o mau hálito, sendo que mais de 90% têm origem na boca. As principais são as placas bacterianas, alojadas nas amígdalas e na superfície da língua (chamada saburra lingual) e, ainda, a má higiene bucal. Doenças gengivais e baixa produção de saliva também são outras causas de mau hálito e podem ter início no stress e até no uso de medicamentos.
Como fatores secundários estão vários distúrbios como os hepáticos, de vias aéreas superiores, diabetes, deficiência do sistema imunológico, insuficiência renal e processos infecciosos.

E o estômago com isso?
A Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca (ABPO) acaba de publicar uma pesquisa feita em caráter nacional, com médicos e dentistas, intitulada O mau hálito e o profissional da área de saúde, para avaliar seu conhecimento e sua conduta terapêutica frente à halitose.
Para preocupação dos especialistas, o estômago é apontado erroneamente como o grande causador do transtorno. E isso leva muitos profissionais a promover tratamentos inadequados, comprometendo a resolução do caso.
Na verdade, ele é responsável pelo constrangimento em apenas 0,1% dos casos. E sabe por que o estômago não deve ser culpado? Devido à presença de um músculo, o esfíncter cárdia, que age como uma barreira impedindo o retorno do bolo alimentar e seus odores para a cavidade bucal. Somente nos casos de eructações gástricas (arrotos), refluxo e vômito haverá um cheiro alterado vindo do estômago e por um período de tempo bem curto.

Funções da saliva
A saliva é um líquido orgânico que cumpre várias tarefas importantes para a saúde bucal: lubrificação das mucosas e dentes, autolimpeza, ação anti-microbiana, degradação e digestão dos alimentos. A baixa produção de saliva (hipossalivação) e a sensação de boca seca (xerostomia) estão diretamente ligadas à halitose. É por isso que se tem mau hálito ao acordar, momento em que a boca está seca.

Motivos da boca seca
A hipossalivação pode ocorrer pela falta de uma alimentação fibrosa, ingestão insuficiente de líquidos, desidratação ou uso de antidepressivos, anti-diuréticos e anti-hipertensivos.

Quem tem mais
A halitose atinge aproximadamente 42% dos indivíduos entre 12 e 65 anos e 67% das pessoas acima dos 65 anos. Em relação ao sexo, não há distinção: abrange em número igual homens e mulheres. Interessante notar, no entanto, gue as mulheres são mais atentas ao problema, buscando tratamento com maior fregüência.

Dificuldade de perceber
O ser humano desenvolve um processo fisiológico chamado “fadiga olfatória”, no qual as células do olfato se adaptam rapidamente a um cheiro constante. Então você se ‘acostuma’ com o cheirinho vindo da boca e o mau hálito passa despercebido.

Como diagnosticar
Há duas formas de saber se há uma alteração do hálito: uma é perguntando a alguém de sua confiança e intimidade, em horários diferentes. A outra é procurar ajuda de um profissional.
Como mais de 90% das causas do mau hálito estão na boca, é comum encontrar dentistas especializados no assunto. O diagnóstico é feito a partir do preenchimento de um guestionário com o histórico médico-odontológico do paciente, uma avaliação clínica minuciosa e a realização de exames específicos para identificação das causas. O tratamento mostra resultados nas primeiras semanas. É melhor resolver o assunto de vez do que tentar disfarçar pelo resto da vida, não?

Cuide bem da saúde bucal
• Escove os dentes corretamente m escovas macias, não esquecendo de trocá-las a cada três meses.
• Use o fio dental de maneira certa e higienize a língua com limpadores específicos, pois são mais eficientes do que escovas dentais.
• A qualquer sinal de sangramento gengival, procure o dentista.
• Beba de dois a três litros de líquidos diariamente.
• Prefira alimentos fibrosos (frutas e vegetais crus, por exemplo).
• Se for necessário, utilize anti-sépticos sem álcool.

Testes para verificar se você tem halitose
Embora os resultados de testes não comprovem a halitose com total segurança, se a resposta for positiva para algum dos procedimentos descritos a seguir, é melhor consultar um especialista.
1) Raspe a superfície da língua com uma gaze; dê uma lambida na parte de trás da sua mão e deixe secar por trinta segundos; passe um pedaço de fio dental entre os dentes do fundo, especialmente onde você acha que possa haver comida acumulada. Em seguida, cheire a gaze, a mão e o fio dental por 45 segundos. Se houver odor, você pode ter problema no seu hálito.
2) A formação da saburra lingual é outro sinal de mau hálito. Agui você pode fazer um auto-exame: fique em frente a um espelho e coloque a língua o máximo possível para fora. A saburra é caracterizada por uma camada esbranquiçada alojada no fundo da língua.

Um assunto que preocupa médicos e dentistas
Veja como existem especialistas interessados no tema:
• A 1a Conferência Mundial em Odores da Respiração foi realizada no ano de 1999. A 6a edição aconteceu em abril deste ano, na Inglaterra.
• A Associação Brasileira de Estudos e Pesguisas dos Odores da Boca (ABPO) criou o Dia Nacional de Combate ao Mau Hálito (22 de setembro) e lançou uma grande campanha para combater o problema. No site da entidade (www.abpo.com.br) existe até um serviço de aviso, por e-mail, à pessoa gue tem halitose, sem identificar você.
• A Universidade de São Paulo implantou, de forma pioneira, a disciplina Halitose, em 2001, na pós-graduação em Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru.
• Ainda neste ano, será oferecido o primeiro curso de especialização em Halitose reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), na cidade de Campinas (SP).

MAU HÁLITO
Maurício Duarte da Conceição, presidente da ABPO (19 3294-2194, Campinas, SP).

VOLTAR