Causa de situações constrangedoras e perda da auto-estima, a halitose é distúrbio comum que pode ser resolvido com medidas simples.

Todos conhecemos alguém que seja portador de mau hálito, com quem não seja possível estabelecer um diálogo a menos de um metro de distância.

Você, possivelmente, não é exceção, visto que esse problema, além de constrangedor, é bem mais comum do que parece.
Tão freqüente que, há dois anos, foi criada a Associação Brasileira dos Odores da Boca (ABPO), com o objetivo de reunir profissionais que estudam o distúrbio, estimular pesquisas na área e orientar portadores de mau hálito ou seus familiares e amigos sobre o diagnóstico e tratamento.

A dentista Ana Christina Kolbe, presidente da ABPO, coleciona casos de pessoas que perderam trabalho, cônjuge ou namorado, sem contar a imprescindível auto-estima, por emissão de odores fortes da boca. Para ter idéia da incidência de halitose, como a medicina classifica o distúrbio, estima-se que ela afete 40% da população brasileira. E, ao contrário do que reza a lenda, não é conseqüência de doenças gástricas ou intestinais.

“Não há com­provação científica de que problemas no aparelho digestivo provoquem mau hálito”, diz o dr. Jaime Eisig, médico da Disciplina de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da USP. Cura depende de boa higiene bucal.

1. A higiene bucal feita após as refeições deve incluir, além do uso de fio dental e da escovação, a limpeza da língua com escova de cerdas macias.
2. Evite utilizar soluções para bochecho contendo álcool, pois elas diminuem a produção de saliva e ressecam a boca.
3. Beber líquido com freqüência estimula e aumenta a salivação.
4. Faça alimentação rica em fibras, que promovem limpeza natural da língua.
5. Alimente-se em intervalos regulares a cada três horas (evitando o jejum) e procure mastigar bem os alimentos.
6. Sangue presente no fio dental ou na espuma de seu dentifrício pode indicar gengivite ou doença periodontal. Procure rapidamente um dentista. Diminuição da saliva A maioria das causas está relacionada às estruturas da boca, especialmente a língua e a gengiva. A saburra lingual, uma camada esbranquiçada ou amare­lada que se instala em todo o dorso da língua e é constituída por restos ali­mentares, células que descamam da mucosa bucal e bactérias, é a principal delas. Os microorganismos produzem o enxofre e outros compostos voláteis, gerando o hálito desagradável.

A formação de saburra em grande quantidade é causada basicamente pela diminuição da produção de saliva. “A existência dessa placa bacteriana lin­gual está envolvida em 90% dos casos de halitose”, afirma a dra. Ana Christi­na. Por conta disso, ela desenvolveu e patenteou o limpador de língua, uma haste de matéria plástica com a ponta curva que permite atritar e remover a camada de sujeira. A escova comum remove 0,6 grama de saburra, contra 1,3 grama retirado pelo limpador, que pode ser adquirido em farmácias. A produção constante de saliva garante uma boca mais limpa e com menor colônia de bactérias. O líquido auxilia a fala, a mastigação e a digestão, além de funcionar como uma espécie de detergente da boca.

Baixa salivação tem múltiplas causas, como o uso de medicamentos e o stress. Fermentação alimentar nas amígdalas, ocorre algo que pode se assemelhar à saburra: a “amigdalite caseosa”. O caseo é uma substância esbranquiçada que se forma nas criptas (minúsculos orifícios) amigdalianas, devido à secreção da própria glândula e à fermentação de restos alimentares. Doenças pulmonares como tuberculo­se ou pneumonia, por se constituírem em focos infecciosos, também podem causar a eliminação de vapores fétidos.

Adenóides (nas crianças) e fossas na­sais infeccionadas (durante as crises de sinusite) liberam gases malcheirosos. Em um experimento realizado por cientistas canadenses para excluir o estômago como principal vilão da halitose, um grupo de voluntários recebeu uma dieta à base de alho. As substâncias voláteis presentes no tempero es­caparam pela boca provenientes do pulmão, e não do aparelho digestivo, depois de entrarem na circulação sanguínea. O chamado hálito cetônico é típico de pacientes que não tratam adequadamente seu diabetes.

A cetona, substância volátil de forte odor, é liberada durante as crises de hipoglicemia, razão pela qual também as pessoas que se submetem a regimes prolongados (ou permanecem longos períodos sem se alimentar) podem ter o mesmo problema. Uma dúvida que pode ocorrer a quem apresenta mau hálito é qual especialista pro­curar. Basicamente, o dentista cuida de causas locais que contribuem para a emissão de odores fétidos bucais, como dentes em mau estado de conservação, gengivites e periodontites. O otorrinolaringolo­gista tem sob seus cuidados as estruturas da língua, amígdalas, glândulas salivares, adenóides, fossas e seios paranasais. Para sucesso no tratamento, é imprescindível a colaboração entre as duas especialidades.

Mau hálito é um sintoma e não uma doença. “Ocorre que nem sempre é simples tratar a causa do sintoma, por isso o controle da halitose é rápi­do, mas sua cura pode demorar”, diz o dentista Maurício Duarte, diretor da Halitus, Centro de Tratamento dos Odores Bucais, em São Paulo. Um exemplo de tratamento simples é quando o odor decorre de doença periodontal, que se caracteriza pela infla­mação e deterioração dos tecidos que envolvem o dente (ligamento periodontal, osso).

“Feito o tratamento odontológico, o mau hálito desaparecerá.” No outro extremo, pode exigir, por exemplo, a colocação de aparelhos ortodônticos em pessoas que fazem respiração bucal e ressecam a saliva. Denúncia on-line Uma prestação de serviço insólito proposta pela ABPO é sucesso no s/te da entidade (www.abpo.com.br). O Clique Mau Hálito oferece a possibilidade de denunciar, no anonimato, um amigo, parente ou conhecido que sofre do problema.

O denunciado, de quem foi fornecido nome, endereço e e-mail, recebe então uma correspondência escrita ou eletrônica da associação, sendo informado de que seu problema foi revelado por outra pessoa, que não é identificada, e recebendo orientação acerca de seu distúrbio. No entanto, muitos usam o serviço para aplicar urna brincadeira de mau gosto em amigos e desafetos. A carta faz essa ressalva, tendo o cuidado de não criar animosidades com o suposto “bafo de onça”. O site da clínica Halitus (www.halitus.com.br) oferece serviço semelhante, colocando ao final da carta endereços e telefones em Campinas e Sáo Paulo. Sem dúvida, boa estratégia de marketing.

Observação : essa reportagem contém alguns erros a respeito da halitose.

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