Você tem um problema de saúde sobre o qual não quer falar? Eis a ajuda.

MARINA, uma comerciante de 53 anos, sentiu-se arrasada quando uma das filhas falou que seu hálito era péssimo e constrangida quando uma amiga, numa conversa cara a cara, ofereceu a ela “uma balinha”. Notou, com tristeza, que o marido havia parado de beijá-la. “Vi que tinha algo”, conta ela após perceber que escovar os dentes, chupar balas de menta e até usar sprays não davam conta da situação.

Quase todo mundo já passou por um problema de saúde constrangedor, como odores nos pés ou mau hálito. Embora não sejam prejudiciais à saúde, tais situações podem afetar a qualidade de vida. O que muitos não percebem é que esses problemas podem ser curados ou controlados, mas as pessoas costumam ter vergonha de procurar ajuda – e sofrem em silêncio – apesar de os médicos já estarem acostumados a lidar com esses transtornos.

Mau hálito

Marignês Dutra, diretora da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca, estima que 40% dos brasileiros sofrem de mau hálito (halitose).
Não apenas infecções na garganta ou doença periodontal podem gerar o mau hálito, mas ainda o fumo, bebidas alcoólicas e alguns alimentos. “Existem bactérias que vivem na boca e que formam a saburra lingual, placa amarelada na língua que exala gás de enxofre”, explica Marignês. “E, em alguns casos, a halitose contamina o ambiente.” O mau hálito também pode ser gerado por estresse e tem como consequência a baixa auto-estima.

Antes de começar o tratamento numa clínica especializada, Marina* mudou seu comportamento social, procurando manter distância das pessoas. “Se alguém me oferecesse balas, achava que era por causa do mau hálito.” Descobriu que tinha saburra na língua (acúmulo de bactérias), foi submetida a uma limpeza e passou a ingerir mais líquidos. “Fiquei aliviada”, conta ela. “Sem dúvida, manter uma boa higiene bucal é fundamental”, diz Marina. “Também é importante tomar líquidos para melhorar a salivação”, acrescenta Marignês.
*nome trocado para proteger a privacidade.

Incontinência

Cecília Mendes ficou arrasada no dia em que molhou as calças durante uma caminhada com um grupo de amigos. A professora particular de 44 anos, de Itaúna (MG), já havia passado por três partos normais. Depois daquele fato constrangedor, nunca mais soube quando espirrar, tossir ou levantar uma sacola pesada, se isso causaria um vazamento de urina.
Os especialistas estimam que cerca de 18 milhões de brasileiros tenham incontinência urinária. O número de mulheres afetadas é três vezes maior do que o de homens. Gravidez, parto, idade, obesidade doenças neurológicas são os principais fatores de risco. Entretanto, homens, mulheres e crianças podem apresentar o problema por causa de lesões, músculos do assoalho pélvico frágeis, defeitos congênitos e acidentes vasculares cerebrais.

“Há dois tipos mais comuns de incontinência na mulher: a provocada por esforço – quando a pessoa espirra, pula corda, tosse – e a por urgência, quando se tem uma vontade incontrolável de urinar”, explica fisioterapeuta Elza Baracho, especializada em uroginecologia, que trata problemas de incontinência urinária.
A incontinência por urgência é o resultado de contrações involuntárias da bexiga, sinalizando uma necessidade imediata de urinar e a incapacidade de resistir. Pode ser causada por problemas neurológicos e agravada pela ingestão de cafeína, chocolate, álcool ou alimentos apimentados.
“É importante reduzir esses estimulantes e beber dois ou três litros de água por dia. O normal é que uma pessoa urine oito vezes em 24 horas e uma vez durante a noite”, afirma Elza. Exercícios para o assoalho pélvico e reeducação da bexiga ajudam a controlar a incontinência.

Para corrigir a incontinência de esforço, Cecília fez uma cirurgia, em que foi retirado tecido do abdome para ser colocado sob a bexiga, como uma tela de proteção. Antes de sofrer de incontinência de esforço, a professora começou a apresentar incontinência por urgência. “Quando sentia vontade de urinar, tinha de correr para o banheiro”, lembra ela.
O quadro evoluiu para a incontinência de esforço e a solução foi a cirurgia. Ao contrário de Cecília, que hoje está curada, muitas pessoas ainda têm vergonha de procurar ajuda. “A incontinência pode ser tratada com exercícios ou com cirurgia, e geralmente tem cura”, diz Elza.

Tranpiração nos pés

Os pés contêm cerca de 250 mil glândulas sudoríparas e são capazes de produzir cerca de 250 mililitros (uma xícara) de suor por dia. O odor é provocado por bactérias e especialmente fungos que se proliferam em ambiente quente e úmido.
De acordo com Celso Luiz de Freitas, presidente da Associação Brasileira de Podólogos, a quantidade de suor nos pés de uma pessoa depende da formação genética, do nível de atividade e de algum fator que estimule ou iniba a sudorese, como o nervosismo.
Felizmente, há tratamentos caseiros e simples que podem ajudar, medidas como lavar os pés diariamente, secá-los bem com toalha e usar meias de algodão, que absorvem melhor a umidade. “Quanto maior o porcentual de algodão da meia, melhor. Cem por cento é o ideal”, afirma Celso Luiz.

Para controlar o odor desagradável nos sapatos, ele dá uma dica: espere pelo menos três dias para usar novamente um sapato, tempo suficiente para secar a umidade. E mantenha-o, de preferência, em ambientes arejados.
“Caso o problema persista, é necessário procurar um dermatologista ou podólogo”, sugere Celso Luiz. “O melhor é diagnosticar e tratar o problema logo no começo. Assim, você evita um tratamento mais prolongado.”

Suor excessivo

As principais causas do suor são o calor, o medo e o estresse. Mulheres na adolescência e na menopausa costumam suar muito por causa da atividade hormonal, e os homens tendem a suar mais do que as mulheres.
“O suor mantém equilibrada a temperatura corporal. É necessário e não faz mal”, afirma o Dr. Ornar Lupi, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Para controlar o suor excessivo, os tratamentos incluem antitranspirantes de concentrações variáveis, mas que são eficazes apenas na região em que são aplicados.

Outra forma de lidar com o problema é por meio da estimulação elétrica da pele a fim de inibir o suor excessivo localizado. Chamado de iontoforese, o tratamento existe desde a década de 1950, mas tornou-se popular no Brasil nos últimos 10 anos. Mais recentemente, injeções de toxina botulínica vêm sendo utilizadas para prevenir a liberação do suor localmente. A cirurgia para cortar os nervos das glândulas sudoríparas só é usada em casos extremos.
Por incrível que pareça, o suor é inodoro. O odor corporal é causado pelas bactérias que proliferam no suor ou pelas glândulas apócrinas, localizadas nas axilas e na virilha, que emitem um odor almiscarado. Para ajudar a combater o problema, o Dr. Ornar recomenda o banho com sabonetes antibacterianos ou desodorantes, além do uso de agentes secativos, talcos ou clorexidina (creme líquido vendido nas farmácias), nas áreas suadas.

Gases

“Todo mundo tem gases intestinais, uns em maior quantidade do que outros. Depende do que comem, do modo como comem e das bactérias existentes em seus intestinos”, afirma o Dr. Eduardo Joaquim Castro, vice-presidente da Sociedade de Gastroenterologia do Rio de Janeiro. “Os gases são mais desconfortáveis para quem sente dores abdominais e estômago estufado.”
A maior parte dos gases é causada pela ingestão de ar ou pela decomposição dos alimentos não digeridos. Soltar gases é normal e benéfico. O cheiro é provocado pelas bactérias do intestino grosso que liberam pequenas quantidades de metano e de outros gases.

Esse problema também pode ser consequência da dificuldade de digerir alimentos como feijão, brócolis ou repolho, ou os açúcares do leite, e pode melhorar com a limitação da ingestão desses alimentos.
Já a eructação, ou arroto, pode ser exacerbada por bebidas fermentadas ou pela ingestão muito rápida dos alimentos. O problema pode ser controlado comendo-se lentamente e não fumando. Alguns antiácidos podem ajudar. Às vezes, a eructação em excesso pode ser um sinal de doença do trato gastrointestinal superior, como o refluxo.
“Nem sempre dores abdominais significam excesso de gases”, diz o Dr. Eduardo

Joaquim Castro. “Quando a dor persiste e é progressiva, deve-se procurar o médico imediatamente, pois sua causa pode ser apendicite, angina ou até mesmo um enfarte.”
Portanto, se você tem algum desses problemas, não sofra em silêncio. E não deixe que o constrangimento o impeça de viver a vida em toda a sua plenitude.

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