Pesquisa recentemente divulgada indica que pessoas estressadas têm grandes chances de desenvolver mau hálito (halitose), doença que acomete até 40% da população. O estresse, além de provocar hipertensão, gastrite, dor de cabeça, tensões musculares, problemas dermatológicos e cardíacos, também é um dos causadores da halitose.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca (ABPO), Maurício Duarte da Conceição, o aspecto emocional tem muita influência na halitose, pois leva à hiposalivação (diminuição da quantidade de saliva) ou hipoglicemia (nível baixo de açúcar no sangue) ambas com grande potencial de causar o mau hálito. “Para agravar a situação, muitas vezes o paciente com dificuldades emocionais procura um psiquiatra, que o medica com antidepressivos, ansiolíticos ou calmantes, que por sua vez pioram o quadro da halitose, por diminuir ainda mais a produção de saliva como efeito colateral”, disse.

Essa diminuição da quantidade de saliva favorece a formação de uma placa bacteriana (camada esbranquiçada) na parte posterior da língua, a saburra lingual. Ela é formada por restos alimentares, restos de saliva, células que se descamam da mucosa oral e bactérias, que se alimentam das proteínas presentes nessas células. “Nesse processo ocorre a liberação de enxofre, em forma de compostos sulfurados voláteis -CSV – que causam um hálito muito forte”, acrescenta Conceição.

A professora da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), Olinda Tarzia, explica que de manhã o ar é usualmente pungente e freqüentemente desagradável. “Como esta situação é comum a praticamente 100 % da população, esta é considerada fisiológica”.
Esta halitose ocorre devido à drástica redução do fluxo salivar durante o sono e ao acúmulo e putrefação de células epiteliais descamadas, alimento e saliva (o epitélio bucal descamado e os restos alimentares são normalmente removidos pela ação da língua e ação detergente da saliva durante a mastigação normal, deglutição e fala).

“Se o fluxo salivar continua baixo durante o dia (uma das causas para isso é o estresse), a halitose permanece mesmo após o desjejum e a escovação dos dentes. Tem sido demonstrado que a halitose matinal ocorre devido à quebra de proteínas de células descamadas que são ricas em aminoácidos odoríferos, contendo compostos de enxofre voláteis tais como mercaptanas (CH³SH) e sulfidreto (SH²)”, frisa a professora da FOB-USP.

O comer ou escovar os dentes pela manhã remove a halitose causada por fatores concorrentes do hálito na cavidade bucal, mas pode não ter nenhum efeito na halitose ocasionada por fatores sistêmicos, tais como a desidratação, ingestão de altas doses de álcool na noite anterior, mau hálito crônico ou halitose dos fumantes.

No caso da redução do fluxo salivar (fisiológica ou não) a quantidade de mucina presente na saliva (proteína salivar que garante proteção e lubrificação das mucosas e dentes) permanece praticamente a mesma, porém num volume
menor de saliva – portanto, sua concentração aumenta. A maior concentração de mucina na saliva (por redução do fluxo salivar ou não) faz que haja aderência da mesma sobre o dorso da língua, além da aderência de células epiteliais descamadas e de microrganismos anaeróbios proteolíticos, que aí encontram dois tipos de substrato: as proteínas da própria saliva e as proteínas oriundas das células epiteliais descamadas.

Uma outra razão para o hálito desagradável ao acordar é a leve hipoglicemia devido ao longo período sem alimentação. A queda de açúcar na corrente circulatória tem um limite a partir do qual, em condições normais, não deve ir além; e por essa razão o organismo lança mão da oxidação (queima) de triglicerídeos depositados, com a finalidade de preservar a glicose que já está atingindo concentrações baixas.

Assim, o organismo consegue manter o nível de energia necessário para a sobrevivência queimando gorduras. Quando os triglicerídeos começam a ser utilizados para a produção de energia, surgem ácidos graxos, entre os quais os de baixo peso molecular, que são voláteis. “Durante as trocas gasosas a nível pulmonar, ácidos graxos voláteis (com odor desagradável de manteiga rançosa ) escapam, comprometendo a qualidade do hálito”, diz Olinda.

A maioria dos pacientes com halitose não percebe que estão com o problema, devido a um processo fisiológico chamado de fadiga olfatória, no qual as células olfativas se adaptam a um determinado odor, se ele for constante. Como as pessoas ao seu redor tendem a se afastar, ele pode ser discriminado em seu trabalho ou em suas relações sociais e afetivas. Ao tomar conhecimento de seu problema, ele pode perder sua espontaneidade e auto-estima e se tornar inseguro e retraído.

“Além disso, o paciente portador de mau hálito sente-se muito preocupado com a reação das pessoas. Se coçarem ou passarem a mão no nariz ao seu lado ou se alguém lhe oferecer balas ou chicletes, ele já tem certeza de que foi por causa do seu problema, o que pode ou não ser verdade”, esclarece o presidente da ABPO.

Segundo Conceição, esse e outros fatores fazem que o mau hálito retro-alimente o estresse, ou seja, muitas vezes o paciente relata que parte do estresse a que ele está submetido é causada pelo próprio mau hálito e por suas implicações sociais. “O mau hálito deve ser tratado pelo Círurgião-Dentista, pois em muitos casos a origem do problema está na boca.”

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