Originada principalmente na boca, halitose faz paciente alterar hábitos e adiar tratamento, o que agrava os efeitos.

No Brasil, o problema já deu origem a uma entidade específica, a ABPO (Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca), criada em 1998. No mundo, produzirá a sexta conferência internacional sobre o tema, em Londres, nos dias 21 e 22 de abriL Na Universidade de São Paulo, ganhou status de disciplina —a halitose é estudada desde 2001 na pós-graduação de estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru.

Tantas atenções devem-se à constatação de que, embora silencioso e invisível, o mau hálito tem potencial devastador à saúde psíquica e emocional. Entre as causas, há mais de 50 fatores, e quase todos levam a um mesmo endereço no corpo humano.”De 90% a 95% dos problemas de mau hálito têm origem na boca”, diz Luciana Camacho Lobato, 40, chefe do setor de Motilidade Digestiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).

O departamento que Luciana Lobato dirige trata uma pequena parte da fatia de 5% a 10% de fontes restantes, as gástricas, como o refluxo gastroesofágico.
Minoria entre as minorias, o mau hálito nascido do estômago pode ser causado por doenças hepáticas graves. Na lista das causas menos freqüentes, estão ainda insuficiência renal crônica, problemas pulmonares, sinusites e amigdalites.
A tentativa de mascarar o problema também ajuda a prolongá-lo. O otorrinolaringologista Luc Weckx, 55, diz que raramente alguém o procura admitindo ter mau hálito. “Esses pacientes em geral têm vergonha de contar a verdade. Às vezes, é preciso adivinhar o que querem dizer”, explica. Chefe do setor de Estomatologia da Unifesp, Weckx diz que, após quebrada a resistência, o mais comum é o otorrino identificar a causa nas gengivas do paciente e mandá-lo ao dentista.

Quando chega ao consultório de dentistas, como o presidente da ABPO, Maurício Duarte da Conceição, 40, especializado em dentística restauradora pela USP de Bauru, esse paciente está com a vida íntima abalada, “teve espontaneidade e naturalidade totalmente comprometidas”. “São pessoas que não falam de perto, desviam o rosto para conversar, ficam caladas em ambientes fechados e são tidas como distantes”, afirma.

Algumas sofrem de um mal circunstancial, fruto do uso de medicamentos fortes, como anti-depressivos, que reduzem a produção de saliva, ou de estresse, outra fonte de ressecamento bucal.
Mauricio Conceição explica que tudo o que resseca a boca, como roncar durante o sono (veja quadro abaixo), descama peles da bochecha. Depositadas no fundo da língua, elas são degradadas por bactérias, formando a chamada saburra lingual, uma placa esbranquiçada ou amarelada.
Essa película não apenas produz mau hálito como ajuda a aumentar a proliferação das bactérias.

Quanto mais retraída a pessoa ficar, menos falar no problema, mais disfarçá-lo com gomas de mascar ou comportamentos arredios, maior a chance de agravá-lo.
A cura para a maioria dos casos costuma ser muito simples. Os profissionais de várias especialidades ouvidos pela Folha foram unânimes em recomendar uma boa limpeza bucal, incluindo a escovação da língua e o uso correto do fio dental em todos os dentes, principalmente nos do fundo. “Raríssimos casos não são tratáveis”, diz o dentista. “O mais desafiador é a baixa produção de saliva e os problemas psicológicos.”

Estes não se limitam a quem tem halitose. Luciana Lobato diz que muita gente sofre de um mau hálito apenas imaginário. No setor de Motilidade Digestiva da Unifesp, é feito um teste com um aparelho chamado halimetro. Segundo a gastroenterologista, o aparelho é capaz de confirmar a existência da halitose e seu grau e também de indicar se sua origem está na boca.
Formado por um canudo que aspira o ar, ele mede a quantidade de compostos sulfurados, substâncias que se formam pela ação de bactérias sobre os restos alimentares, sobre a placa dentária ou sobre as micropeles provenientes do ressecamento da boca. Se o total de compostos estiver muito alto, é sinal de que a halitose do paciente se origina na boca. Do contrário, ou o mau hálito tem outra causa ou nem existe.

O site da ABPO (www.abpo.com.br), traz uma lista de clínicas de tratamento. Pelo telefone (0/xxfl 9/3294-2194), obtém-se a indicação de profissionais cadastrados em todo o país. No Ambulatório de Estomatologia da Unifesp (rua Botucatu, 740, Vila Clementino, São Paulo,

“Solução era simples demais”.

O pedreiro João Machado, 54, conviveu durante 31 anos com um mal desnecessário. A halitose entrou em sua vida em 1972 e se instalou discretamente.
“Conversando com as pessoas. você percebe que elas viram o rosto de lado, põem a mão no nariz.” Aos poucos, alguns amigos já não apareciam mais. “Fui perdendo as pessoas com quem trabalhava, e até amizades”, conta.
Alertado por seus familiares, Machado cometeu o mesmo engano que fez a maioria dos médicos entrevistados para uma pesquisa da ABPO marcar a opção errada na resposta à pergunta “O que você acha que causa mau hálito?”. De acordo com o dentista Maurício Conceição, a maioria respondeu “o estômago”.
Machado afirma que gastou “fortunas” com gastroenterologista, até que uma médica o orientou a procurar a clínica de Conceição, há três meses. “Pensava que já estava morto, mas a solução era simples até demais.”
A higiene lingual correta, feita duas vezes ao dia e associada à reeducação alimentar, devolveu a Machado a sociabilidade que ele considerava perdida.

TESTE DO HÁLITO
Você… (some os pontos indicados em cada item)

Bebe pouco líquido…4
Costuma comer muita gordura e proteína animal ou comida muito temperada…4
Fuma…4
Usa enxaguatório com álcool…4
Toma bebidas alcoólicas com freqüência*…4
Tem o intestino preso…4
Fica muitas horas sem se alimentar…5
Respira pela boca…5
Costuma roncar…5
Tem diabetes…7
Sente a boca seca com freqüência…7
Sente gosto ruim na boca, mesmo após escovar os dentes e se alimentar…7
Sente cheiro desagradável no fio dental após o uso em dentes do fundo…7
Não usa fio dental com freqüência…7
Tem Tártaro…7
Usa aparelho ortodôntico ou prótese fixa…7
Tem sangramento gengival com o fio dental ou com a escova de dentes…20
Tem placa esbranquiçada no fundo da língua…20
Às vezes percebe pequenos flocos ou grãos de odor desagradável de cor amarelada ou branca…20
*mais de duas vezes por semana.

Resultado

De 0 a 4 pontos, a probabilidade de ter halitose é pequena. Peça para alguém de sua confiança observar, em diferentes horários do dia, se você tem mau hálito.
De 4 a 20 pontos indica uma probabilidade moderada. A simples observação das dicas abaixo pode resolver o problema.
20 ou mais pontos indicam uma probabilidade grande de ter halitose. Consulte um especialista.

Fonte: www.mauhalito.com.br

Como evitar o problema

• Beba de dois a três litros de água ao longo do dia.
• Não utilize soluções para bochecho que contenham álcool
• Passe o fio dental abraçando todos os lados de todos os dentes
• Escove os dentes sem pressa, use escova macia e exerça pressão moderada
• Limpe a língua com limpador lingual ou com escova de dentes, três vezes ao dia
• Evite intervalos superiores a três ou quatro horas entre as refeições
• Substitua o café pelo chá verde e evite bebidas alcoólicas e refrigerantes sabor ‘cola’
• Não fume
• Dê preferência a alimentos fibrosos e dispense os de odor carregado (alho e carnes, por exemplo)
• Se aparecer sangue no fio dental e/ou na espuma de seu creme dental, procure um periodontista

VOLTAR