SAÚDE E BEM ESTAR

A psicologia no combate ao mau hálito
Josi Vicentin

Araçatuba – Desde que o mundo é mundo, as pessoas se lamentam do mau hálito, ou halitose. Há mais de 3 mil anos, o médico grego Hipócrates já prescrevia um bochecho de vinho com ervas aromáticas para melhorá-lo. E um jovem fabricante de cosméticos, na velha Roma, ficou rico quando inventou e começou a produzir essência de hortelã para tratar o problema.

O mau hálito ou halitose consiste em odores desagradáveis oriundos da cavidade bucal ou através da respiração. É muito importante dizer que a halitose é um sintoma e não uma doença, pois revela que algo no organismo está em desequilíbrio, que tem de ser detectado e tratado.

A halitose tem mais de 50 causas e em aproximadamente 90% dos casos a origem é bucal. Pode ser de origem fisiológica (hálito da manhã, jejum prolongado, dietas inadequadas), razões locais (má higiene bucal, placas bacterianas retidas na língua ou amídalas, baixa produção de saliva, doenças da gengiva), ou mesmo razões sistêmicas (diabetes, problemas renais ou hepáticos, prisão de ventre e outros).

Esse problema, que acomete cerca de 60% da população mundial, tem na psicologia uma fortíssima aliada, como afirma a especialista em estomatologia, Rosiene Lima Fagundes, de Campinas. “As pessoas afetadas por esse problema muitas vezes têm grandes transformações no seu dia-a-dia, mais especificamente no contato social. Quase sempre acabam se isolando na sociedade, o que afeta diretamente suas relações”, comenta.

Geralmente, quem sofre de halitose fala com a mão na boca, desvia o rosto, usa bala ou chiclete o tempo todo e, costumeiramente, tem o seu desempenho profissional afetado.

Rosiene explica que para acabar com o problema é preciso combinar tratamentos, o que significa dar especial atenção aos aspectos emocionais ligados ao paciente. “É comum que o portador de mau hálito chegue ate nós desacreditado de qualquer solução para seu problema, pois ele já tentou de tudo, como endoscopias, cirurgias de estômago, cirurgias para extração das amídalas, de dentes, trocas de restaurações e de próteses, etc., sem obter resultados satisfatórios”, diz a especialista. “Mas o problema tem solução”, salienta.

O tratamento da halitose, acompanhado dos cuidados ao lado psicológico do portador, dura cerca de 60 dias. A especialista explica que o primeiro passo é avaliar o condicionamento em ter o problema por meio das reações dessa pessoa perante a sociedade.

Quando necessário, o tratamento será realizado em conjunto com alguém íntimo do paciente (pais, irmãos, amigos), que vai controlar passo a passo a evolução de quem faz o tratamento. “É importante ter alguém do lado para ser uma fonte de referência, pois este paciente sempre vai querer saber se o mau hálito diminuiu e esse questionamento tem que ser com alguém bem próximo, que convive com ela no dia-a-dia, pois nesse caso existe uma maior segurança”, revela Rosiene.

É comum o portador de mau hálito se sentir preocupado com a reação das pessoas. “Se coçarem ou passarem a mão no nariz ao seu lado, ele já vai achar que o problema é com ele. Se alguém oferecer balas ou chicletes, ele já tem certeza que foi por causa do seu problema”, diz Rosiene.

Mas o maior problema, segundo a especialista, é o chamado condicionamento em ter mau hálito, onde o hálito não é tão forte como a pessoa pensa. “Ocorre também de a pessoa ter tido mau hálito, não ter mais o problema, mas ainda continuar condicionado a acreditar que tem, devido a reação das pessoas”, revela.

O lado psicológico assume grande importância para as pessoas. O paciente irá, por meio do tratamento, não apenas eliminar o seu mau hálito, bem como ter a perspectiva de voltar a ter uma vida normal, recuperando a segurança, naturalidade e auto-estima, muitas vezes abaladas por conviver durante anos com o problema.

O acompanhamento, ainda segundo Rosiene, é feito até que o paciente se sinta seguro. Para casos de envolvimento psicológico bem mais severo, em que haja a necessidade de um tratamento psicoterápico, o paciente é encaminhado a um psicólogo, e se forem necessários medicamentos, a um psiquiatra, para um trabalho conjunto.

A especialista atua numa clínica pioneira do país no tratamento da halitose no Brasil, com unidades espalhadas em São Paulo, Campinas e São José dos Campos. “Em nossa filosofia de trabalho, o sucesso de tratamento vai além de simplesmente devolver ao paciente um hálito agradável. Por isso oferecemos a ele um suporte ao seu lado psicológico durante todo o tratamento para que ele recupere sua segurança, espontaneidade e auto-estima e volte a falar de perto sem medo ou insegurança, completa Rosiene”.

Teste — No site www.mauhalito.com.br, é possível fazer um teste para saber a probabilidade de possuir mau hálito. Bastam alguns minutos para responder um questionário com alguns itens de detalhes que abordam o ritmo de vida de cada um. “É simples e bem particular, onde o próprio programa emite o resultado da probabilidade ou não da pessoa sofrer de halitose. O resultado vai desde halitose leve, moderada ou severa”, diz Rosiene Fagundes.

No entanto, o teste não exclui a necessidade de uma boa consulta de avaliação para um diagnóstico mais preciso. Além disso, em outro pequeno questionário, avalia-se também o condicionamento em ter o mau hálito.

Ainda nesse site, os interessados encontram uma maneira sutil de avisar alguém que ele possui mau hálito. É o espaço “Bom Amigo X Mau Hálito”, no qual, anonimamente, é possível ajudar seu amigo ou familiar que possua o problema a resolver a situação.

No link, é possível fazer a notificação por e-mail ou carta, com a possibilidade de ver o modelo da correspondência que ele irá receber, formulado pelos profissionais que atuam no tratamento da halitose, indicando as soluções para o problema. “Tudo é feito de forma direta, objetiva e principalmente ética. A pessoa que recebe a notificação nunca vai saber quem a enviou, pois o informante é mantido em sigilo”, lembra Rosiene.
Quem recebe a notificação é orientado a entrar no site para aprender sobre seu problema e buscar ajuda, se necessário.

Como ocorre o mau hálito?

Cerca de 60% de toda a população mundial tem ou teve mau hálito. Uma das causas está relacionada aos molhos picantes utilizados na alimentação. Após digerir alho ou cebola, por exemplo, o odor não só se apresenta no hálito, como até recende da pele ou vem do ar expelido pelos pulmões. No entanto, 90% daquele “bafo repulsivo” que muita gente tem, procede dos resíduos alimentares.
Minúsculas partículas de comida são acolhidas no intervalo dos dentes, das pontes ou dentaduras.

A bactéria que vive na boca e se alimenta com os resíduos de comida que ficam entre os dentes é a primeira causa do mau hálito. Como ela fermenta, seus subprodutos geram gás sulfúreo, o mesmo gás presente no ovo podre. Essas bactérias gostam de se localizar na parte anterior da língua, criando aquele muco esbranquiçado que geralmente constatamos ao acordar pela manhã.

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