Mau hálito é um problema que qualquer ser humano pode sofrer. Para alguns difícil controlar. Mas veja como conhecer e enfrentar esse desafio.

Para falar bem de perto

Se o hálito fica ruim, a espontaneidade acaba. Pior ainda: a própria pessoa não percebe. Mas o problema pode ser tratado melhor, tem cura.

Quase ninguém tem bom hálito quando acorda. Durante o sono, a salivação diminui e a atividade bacteriana tende a crescer. “Além disso, a pessoa passa a madrugada sem comer, e o jejum prolongado também provoca o problema”, explica o dentista Maurício Duarte da Conceição, de Campinas, presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca (Abpo). Mas não é normal que o hálito continue ruim depois que a pessoa escova os dentes e se alimenta. Mesmo assim, é preciso considerar gripes, inflamação das amígdalas e processos alérgicos, como rinite, faringite ou sinusite, distúrbios que também podem alterar a qualidade do hálito.

Se o problema persiste sem motivo é preciso descobrir a causa e tratar. “Quem tem mau hálito é discriminado. A pessoa não consegue manter parceiros afetivos e fica com baixa auto-estima”, explica o dentista Valderino Castro, de Florianópolis, que também faz parte da Abpo e pesquisa a halitose há muitos anos. Segundo ele, essa disfunção nem sempre tem a ver com falta de higiene, como se pensa -a solução depende de cuidados específicos, que variam conforme o diagnóstico e a origem do problema.

A principal causa

Em cerca de 90% dos casos, o motivo está na boca e é provocado por uma placa bacteriana que se forma no fundo da língua, a chamada saburra lingual. “A língua tem pequenos sulcos, como se fossem bolinhas. Aí se alojam bactérias que se alimentam das células que descamam da mucosa oral”, explica Duarte da Conceição, que também dirige a clínica Halitus, em Campinas e São Paulo. Essa placa de bactérias fermenta e libera um odor de enxofre, o próprio mau hálito.

Segundo ele, a boca descama porque está ressecada e, aqui, pode haver várias causas: muitas vezes, a pessoa tem o hábito de respirar pela boca, de mordiscar os lábios e a parte interna das bochechas ou, simplesmente, saliva pouco. “A saliva tem a função de promover a limpeza da boca: quanto mais a pessoa saliva, melhor será o seu hálito”, explica Duarte da Conceição. Estresse, o uso de determinados produtos, medicamentos e a falta de hidratação adequada contribuem para diminuir a produção de saliva.

O falso vilão

As inflamações de gengivas afetam o hálito, assim como alterações nos níveis de açúcar no sangue (diabetes) e problemas no fígado. Mas o estômago não tem nada a ver com isso. “Acontece que o fígado e os pulmões não conseguem filtrar certos componentes presentes em alguns alimentos. E essas substâncias são eliminadas através da transpiração e do ar que sai pela boca e pelo nariz.

O hálito muda mesmo que nenhum alimento tenha passado pela boca”, explica Duarte da Conceição. Ele cita uma experiência clássica: um grupo de pessoas ingeriu alho em forma de cápsula; outro, através de emplastro colocado na sola dos pés; um terceiro, ainda, recebeu doses de alho injetadas no tecido subcutâneo. Em todos os casos, o cheiro do alho saiu pela boca e pelo suor depois de 20 a 45 minutos.

“A alicina -um derivado de enxofre presente no alho- acaba sendo exalada pela boca ou pelas narinas, mas não provém do aparelho digestivo, e sim dos pulmões”, explica. O mesmo acontece com alimentos que têm alto teor de proteína e gordura animal: queijos fortes, como o gorgonzola; carnes gordurosas, como salame, copa e lombo canadense; azeitonas, ovos e cebola surtem o mesmo efeito.

VEJA COMO EVITAR O “BAFO DE ONÇA”

Os especialistas apontam os hábitos e produtos que devem ser evitados:

-cremes dentais com sulfato de sódio: essa substância detergente é usada para fazer espuma, mas tem um efeito secante na boca; mesmo os cremes que não a contêm pedem economia -a dose ideal de pasta na escova tem o tamanho de uma ervilha;

-enxaguatórios, sprays e anti-sépticos bucais com álcool: a maior parte desses produtos piora o ressecamento e, conseqüentemente, o hálito;

-pastilhas e balas açucaradas: as pastilhas costumam mascarar o hálito e tudo o que contém açúcar acentua o problema. Mas os chicletes sem açúcar podem ajudar porque o ato de mascar estimula a salivação;

-jejum prolongado: passar horas sem comer provoca alterações fisiológicas que propiciam a halitose;

-café e cigarro: cheiros fortes ficam mais presentes em quem tem placa bacteriana na língua;

-medicamentos: existem mais de 400 remédios que comprovadamente diminuem a produção de saliva; os que provocam mais alteração são os ansiolíticos, os antidepressivos e os antialérgicos;

-bebidas alcoólicas: o álcool resseca a boca e aumenta a descamação das células da mucosa oral.

…e o que ajuda

Para a pesquisadora Sonia Hirsch, autora de “O Mínimo Para Você se Sentir o Máximo – Pequeno Guia dos Alimentos” (Ed. Corre Cotia, 204 págs., R$ 32), a dieta pode interferir no hálito. De modo geral, quem tem tendência ao problema deve:

1) Beber 8 copos de água por dia: o líquido favorece a produção de saliva, hidrata as mucosas, contribuindo para manter o bom hálito. “Melhor se dois desses copos forem ingeridos em jejum, para lavar o estômago e despertar os intestinos”;

2) Preferir chá verde no lugar do café;

3) Além de bebidas alcoólicas, evitar refrigerantes e bebidas açucaradas ou que contenham aditivos químicos; também é melhor não tomar refrescos naturais ácidos, como os sucos de laranja e maracujá;

4) Evitar alimentos que exalam odores fortes. “Carnes e comidas gordurosas tendem a produzir resíduos que afetam o hálito.”

Sonia dá, ainda, receitas simples que ajudam a refrescar:
– comer aipo ou cenoura crua e raspadinha;
– mastigar salsinha fresca ou folhas de hortelã;
-beber água temperada com fatias de limão;
-comer frutas em geral. “Frutas são desintoxicantes e faxineiras; as ricas em fibra, como a maçã, têm uma ação de limpeza na própria língua. Mas todas as frutas devem ser consumidas apenas no intervalo entre as refeições -duas horas antes e duas ou três horas depois- para não interferir na digestão.”

Teste Rápido

É muito difícil perceber o próprio hálito. Isso acontece por causa de um fenônemo chamado fadiga olfativa. “As células do olfato se impregnam rapidamente com um determinado odor e se adaptam a ele; só assim conseguem perceber outros cheiros”, explica o dentista Maurício Duarte da Conceição.

Segundo ele, o exemplo clássico é não sentir o próprio perfume, mesmo quando se exagera na dose. “Só as outras pessoas sentem”, explica. Ainda assim, dá para tentar descobrir se o hálito anda ruim, como ensina o inglês Nick Fisher, autor de “Beijos – Coisas Que Todo Mundo Quer Saber” (Ed. Melhoramentos, 138 págs., R$ 19).

Veja o que acontece depois de
– soprar dentro das mãos em concha;
– respirar pela boca bem perto de um espelho;
– lamber o dorso da própria mão.

O odor que fica depois dessas experiências deve ser levemente adocicado (se isso não acontece é sinal de problema). Na opinião de Duarte da Conceição, porém, o resultado desses testes pode enganar. “Acontece que a saliva de todas as pessoas contém cristais de enxofre, que se transformam em gases voláteis no contato com a pele”, diz. Por isso, o cheiro residual pode ficar esquisito mesmo que a pessoa não tenha o problema.

Prova dos 9 Para os especialistas, o método mais seguro é perguntar a alguém muito íntimo -e em quem se confie totalmente. Quem se sente constrangido com a situação pode preferir fazer o teste no www.clinicahalitus.com.br, o site da clínica Halitus, especializada no assunto. As perguntas checam hábitos de higiene, a dieta e o uso de determinados produtos, para fornecer um diagnóstico sobre a probabilidade de halitose.

Amigo anônimo A dificuldade natural de falar sobre isso fez com que a Associação Brasileira de Estudos e Pesquisa dos Odores da Boca criasse uma forma especial de informar alguém sobre o seu problema de hálito. Basta clicar no site www.abpo.com.br/mauhalito.htm e preencher o quadro com os dados da pessoa que tem o problema. A associação entra em contato, mantendo o nome de quem fez a indicação em absoluto sigilo.

Como tratar

Seja qual for a origem, existem tratamentos apropriados para que o hálito volte a ser bom. Se o problema vier das gengivas, o ideal é procurar um dentista. Sempre vale a pena aprender a escovar corretamente os dentes, usar fio dental e, se houver indicação, o raspador de língua: uma higiene bucal perfeita evita que resíduos de alimentos fiquem retidos nos sulcos da língua, fermentando e comprometendo o hálito.

Na maior parte dos casos, porém, o tratamento começa com uma modificação do padrão salivar do paciente. “Para isso, existem medicamentos específicos, mas contra-indicados para quem tem hipertensão ou problemas de pulmão”, explica Valderino Castro. Por isso, os médicos também aplicam exercícios que estimulam as glândulas salivares e, muitas vezes, propõem alterações na dieta.

O tratamento geralmente leva de um a dois meses, mas o hálito melhora sensivelmente já na primeira semana. Depois disso, os bons resultados tendem a se manter sem medicamentos, pois o paciente recupera o equilíbrio de sua flora bacteriana.

Existem clínicas especializadas no assunto. Para maiores informações, o melhor contato é a Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca, através do site www.abpo.com.br ou pelo tel.: (19) 3294-2194.

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